Uma obra de grande valor
Sempre gostei de obras de arte, embora não tenha o dom de desenhar, tampouco de pintar. Lembro-me no ensino médio, na escola Fernando Prestes, das aulas de arte. Das “Ninfeias” de Monet, do relógio surrealista de Dali, do desespero humano retratado na obra “O Grito”… Em todas elas, o artista retrata com tinta aquilo que as palavras não dão conta de expressar.
Uma obra, porém, que sempre me chamou a atenção foi a mais famosa de Da Vinci: “Mona Lisa”. Confesso que daquelas que conheço, essa não é a que acho mais bela. Meu desencanto, todavia, aumentou, quando um dia tive a oportunidade de vê-la pessoalmente no Louvre. Não imaginava que era fosse tão pequena, uma das menores do Museu! As pessoas, entretanto, se aglutinavam para chegar perto e tentar tirar uma foto que fosse, mesmo que depois tivessem que abusar do zoom para poder vê-la melhor!
Fiquei pensando… Por que de todas as obras a “Mona Lisa” é a mais propalada? Não é muito difícil deduzir! Por causa da magnitude do autor da obra! Quem a pintou foi simplesmente o genial Leonardo Da Vinci! Além disso, foi a primeira obra que dava a noção de profundidade ou relevo aos olhos do observador. Essa obra hoje possui um valor inestimável! Se fosse a leilão bateria recorde de lançamentos inimagináveis!
Algo semelhante aconteceu conosco! O Salmo VIII diz assim: “Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo.”
No relato da criação do homem em Gênesis vemos retratada sua fragilidade na figura do barro: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente.” (Gn2,7).
Por nós mesmos, somos frágeis, somos pó! Mas em Deus somos invencíveis! Valemos muito porque o “Artista” que nos plasmou é simplesmente o Todo-Poderoso: “Tu formaste o íntimo do meu ser e me plasmaste no ventre de minha mãe. Graças te dou pela maneira extraordinária como fui criado! Pois tu és tremendo e maravilhoso!” (Salmo CXXXIX).
Um dia, todavia, o maligno, lá no Paraíso, quis roubar esta obra prima de Deus! Desde então, perdemos a graça santificante que estava em nós. O Senhor Jesus, contudo, na sua cruz redentora, pagou muito caro, preço de sangue, para o resgate dessa obra. E graças a Deus, fomos resgatados por altíssimo valor! Diz a Palavra: “Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (ICor6,20).
De pó que éramos, o Senhor nos fez participar de sua glória e de sua divindade, a ponto de fazer de nós, nas palavras de São Paulo, cidadãos do Céu: “O primeiro homem, tirado da terra, é terreno; o segundo veio do céu”. (ICor15,47). Ou seja, maior ainda se tornou o nosso valor!
Santo Agostinho, extasiado diante de tão grande mistério dirá: “Quer saber o teu valor? Olhe para a Cruz, tu vales um Deus crucificado.”
O problema, porém, é que não se conformando em ter nos perdido para Deus, o adversário continua usando a estratégia de nos convencer de que somos uma obra sem valor, de que não valemos nada. Mas não é verdade! Se uma obra de Da Vinci vale tanto, quanto mais a obra prima do Todo-Poderoso? Somos barro? Sim! Mas neste barro há muito ouro que só os olhos de verdadeiros garimpeiros são capazes de enxergar!
Pe. Wagner Lopes Ruivo.
Arquidiocese de Sorocaba, São Paulo.